Não é novidade pra ninguém que eu e minha sócia costurística Katia amamos a costura e falamos nisso o tempo todo, né?!
Mas que tem um bocado de gente que encontra poesia na costura eu ainda não falei por aqui! E também não contei que ando me enveredando por esses caminhos poéticos, por influencia de um amigo muito querido que, orgulho-me em dizer, é poeta; e dos bons!
Sempre que me deparo com uma lindeza dessas, não aguento e coloco logo no facebook (amor declarado é assim!) porque acho que está faltando um tanto de beleza na vida da gente.
Dessa vez, resolvi reunir algumas dessas jóias e dividir especialmente com vocês, espero que elas deixem o dia de vocês mais colorido!
Dedico essas doces poesias às leitoras costureiras, que com certeza se identificarão ao ler esses versos!
Beijoca,
Ana
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A costureira
(Eucanaã Ferraz)
Ela ouve o tecido, ela pousa
o ouvido, ela ouve com os olhos.
À fibra e ao feixe interroga
sobre o que se entrelaçara,
distinguindo a linha, o intervalo,
o vão, o entreato, atenta
para o que na fala geométrica
e repetida dos fios é um outro
vazio: o de antes da trama, ato
anterior ao enredo; óculos
postos para a escuta, a escuta
desfia-se no vento, o olho
flutua, folha, flor, agulha;
fecha os olhos; ouve
com as pontas dos dedos;
indaga do tecido o modo,
os limites, a função, a oficina,
a forma que ele quer ter,
a coisa, a casa que ele quer ser;
e costura como quem à mão
e à máquina descosturasse
o dicionário, rasgando em moles
móbiles seus hábitos, o vinco
de sua farda.
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(Phoebe Wahl)
A costureira
(Eucanaã Ferraz)
Ela ouve o tecido, ela pousa
o ouvido, ela ouve com os olhos.
À fibra e ao feixe interroga
sobre o que se entrelaçara,
distinguindo a linha, o intervalo,
o vão, o entreato, atenta
para o que na fala geométrica
e repetida dos fios é um outro
vazio: o de antes da trama, ato
anterior ao enredo; óculos
postos para a escuta, a escuta
desfia-se no vento, o olho
flutua, folha, flor, agulha;
fecha os olhos; ouve
com as pontas dos dedos;
indaga do tecido o modo,
os limites, a função, a oficina,
a forma que ele quer ter,
a coisa, a casa que ele quer ser;
e costura como quem à mão
e à máquina descosturasse
o dicionário, rasgando em moles
móbiles seus hábitos, o vinco
de sua farda.
A Costureira
(Paulinho Tapajós)
Velha costureira
Companheira como está?
Não levante da cadeira
Só vim perguntar
Se um peito rasgado
Você pode costurar
Com agulhas da alegria
E os fios de raios de luar
Quero um sol bordado
No meu coração
Pra aquecer no peito
Uma grande paixão
E eu lhe pago assim que puder
Com a nova canção
Que eu fizer
Caixa de Costura
(Flora Figueiredo)
Venho costurando minha vida
com linhas de saudade.
Procuro equilibrar-lhes a cor
para que o resultado final não seja triste.
Por vezes, é o cinza que insiste;
por vezes, impera o marrom.
Ainda bem que tem saudade bonita;
mudo o tom, amarro fitas,
busco a outra ponta do novelo;
intercalo a trama em amarelo.
A saudade é assim mesmo,
tecelã do tempo.
Quando menos se espera,
arremata o momento, leva embora,
deixa a porta encostada, o cadarço de fora,
e nunca avisa a hora de voltar.
Ainda hei de costurar com verde florescente
e, se a saudade chegar autoritariamente,
vai se sentir enfraquecida.
Enquanto procuro a cor,
vou costurando a vida,
sem saber qual vai ser o resultado.
Caso ele não fique combinado,
dou um nó, encosto agulha, guardo a linha,
que essa culpa roxa não é minha.
É uma artimanha branca do passado.
(Flora Figueiredo)
Venho costurando minha vida
com linhas de saudade.
Procuro equilibrar-lhes a cor
para que o resultado final não seja triste.
Por vezes, é o cinza que insiste;
por vezes, impera o marrom.
Ainda bem que tem saudade bonita;
mudo o tom, amarro fitas,
busco a outra ponta do novelo;
intercalo a trama em amarelo.
A saudade é assim mesmo,
tecelã do tempo.
Quando menos se espera,
arremata o momento, leva embora,
deixa a porta encostada, o cadarço de fora,
e nunca avisa a hora de voltar.
Ainda hei de costurar com verde florescente
e, se a saudade chegar autoritariamente,
vai se sentir enfraquecida.
Enquanto procuro a cor,
vou costurando a vida,
sem saber qual vai ser o resultado.
Caso ele não fique combinado,
dou um nó, encosto agulha, guardo a linha,
que essa culpa roxa não é minha.
É uma artimanha branca do passado.
A costura da poesia
(Alef Lima)
O poeta costura frases,
borda versos,
Desmancha pequenas sentenças.
O poeta tece períodos inteiros
com a agulha da gramática,
a poética.
O poeta faz a barra da saia,
Escolhe as estampas
e a cor da poesia.
O poeta toca o tecido,
enrola o pano da escrita
e da por fim contornos ao molde.
O poeta tinge a sonoridade das rimas.
Se preciso desfaz o babado
e recostura o mal-costurado.
A poesia é a linha que usa ao recompor cortes usados.
Que lindeza de post! Bjs
ResponderExcluirObrigada Genisa!
ResponderExcluirbeijo