Hoje eu quero falar sobre um documentário que assisti, o "The True Cost".
The True Cost (traduzido: O Custo Real)
"Esta é uma história sobre a roupa. É sobre as roupas que vestimos, as pessoas que as fazem e o impacto que a indústria tem em nosso mundo. O preço do vestuário tem diminuído ao longo das décadas, enquanto os custos humanos e ambientais têm crescido dramaticamente. The True Cost é um documentário inovador que abre as cortinas sobre a história não contada e nos convida a pensar: quem realmente paga o preço por nossa roupa?
Filmado em países de todo o mundo, desde as passarelas mais brilhantes até as favelas mais escuras, com entrevistas com pessoas influentes e líderes mundiais, incluindo Stella McCartney, Livia Firth e Vandana Shiva, The True Cost é um projeto sem precedentes, que nos convida a uma viagem para abrir os olhos de todo o mundo e para a vida de muitas pessoas e lugares atrás de nossas roupas."
(Extraído daqui. Traduzido e adaptado por mim)
Quem paga o preço pelas nossas roupas?
De início, imaginei que o foco seria sobre o trabalho escravo em oficinas de costura em diversos países, mas o documentário é bem mais profundo e fala não só deste aspecto (que é muito relevante), mas também de todas as etapas do ciclo de vida de uma peça de roupa, desde a produção da fibra têxtil, passando pelas oficinas de costura e vai até o descarte de roupas já sem uso.
Reflexões voltadas ao mundo craft
Desde que assisti o documentário, penso com frequência que há muito a ser feito. Todo mundo que costura tem um estoque de tecidos em casa e sabe-se lá como eles foram feitos, o quanto poluíram o ambiente ou o quanto prejudicaram a saúde das pessoas que os produziram até chegarem em nossas mãos. Um dos fatos chocantes mostrados no documentário é que indústria têxtil é a segunda maior poluente do mundo, atrás apenas da petrolífera. Mesmo fazendo a nossa própria roupa em casa, de maneira individualizada, também fazemos parte desta cadeia produtiva gigantesca.
Junte a isso tudo a dificuldade na hora de escolher vestir materiais naturais (como o algodão, um dos meus preferidos) e vestir menos materiais sintéticos (normalmente provenientes do petróleo), já que nos materiais naturais existe uma quantidade enorme de químicos prejudiciais à saúde que são usados no cultivo e no tratamento da fibra. Já que estamos falando de algo que praticamente todas as pessoas usam, as roupas, dá aflição pensar que a grande maioria atualmente não tem para onde correr, sabe?
Eu tenho me esforçado para comprar novos materiais apenas quando forem necessários e buscar fontes mais sustentáveis. Fiquei feliz de ter encontrado malhas de algodão orgânico em viagens, mas nunca consegui comprar algo do tipo no Brasil. Quero fazer uma busca nesse sentido e compartilhar o que eu encontrar com vocês também.
Um outro pensamento que passou a me incomodar muito e que é muito difundido em nosso mundo craft é que está tudo bem sair para comprar um tecido só e voltar para casa com vários (porque é bonito, porque está barato e etc). Temos que lembrar que ficar com tecido parado em casa é sinal de que a compra pode não ter sido boa, além representar dinheiro parado também.
Lá no fundo, a gente sabe que ninguém vai perder nada na vida se deixar de comprar aquele tecido ou aquela roupa "que agora que eu sei que ela existe eu não posso mais viver sem ela". Lá no fundo a gente sabe que a gente não precisa tanto assim de várias coisas, a gente sabe que pode ser mais seletivo.
Uma outra coisa que passou a me incomodar: a gente, ao fazer a própria roupa, bolsa ou acessório, não está usando mão de obra em condições de escravidão, ok. Mas os nossos tecidos e aviamentos, de onde vieram? Em que condições foram feitos?
Com o câmbio favorável às importações nos últimos anos, a oferta de materiais nacionais para comprar diminuiu, o que me leva a crer que a nossa indústria têxtil deva ter encolhido muito com essa situação. Agora os materiais que usamos estão com os preços em alta, todo mundo deve estar notando. E se os nossos materiais continuam vindo de muito longe, ainda fica difícil saber mais sobre a origem dele em detalhe.
Um outro pensamento que passou a me incomodar muito e que é muito difundido em nosso mundo craft é que está tudo bem sair para comprar um tecido só e voltar para casa com vários (porque é bonito, porque está barato e etc). Temos que lembrar que ficar com tecido parado em casa é sinal de que a compra pode não ter sido boa, além representar dinheiro parado também.
Lá no fundo, a gente sabe que ninguém vai perder nada na vida se deixar de comprar aquele tecido ou aquela roupa "que agora que eu sei que ela existe eu não posso mais viver sem ela". Lá no fundo a gente sabe que a gente não precisa tanto assim de várias coisas, a gente sabe que pode ser mais seletivo.
Isso aconteceu na viagem à Paris, quando acabei não visitando a loja que eu mais queria, contei no post sobre a feira que visitei lá. Já tinha feito boas compras na feira (e alguns tecidos já foram utilizados, conforme planejei), vi que elas me bastavam e me aquietei.
Uma outra coisa que passou a me incomodar: a gente, ao fazer a própria roupa, bolsa ou acessório, não está usando mão de obra em condições de escravidão, ok. Mas os nossos tecidos e aviamentos, de onde vieram? Em que condições foram feitos?
Com o câmbio favorável às importações nos últimos anos, a oferta de materiais nacionais para comprar diminuiu, o que me leva a crer que a nossa indústria têxtil deva ter encolhido muito com essa situação. Agora os materiais que usamos estão com os preços em alta, todo mundo deve estar notando. E se os nossos materiais continuam vindo de muito longe, ainda fica difícil saber mais sobre a origem dele em detalhe.
A cada peça nova de roupa que eu faço ou que compro, separo uma do meu armário que não estou mais usando. Normalmente destino para a igreja, que a vende em bazares ou dôo para alguém que se interessou por ela. Ainda assim, sei que em algum momento aquela peça virará lixo e como lidar com a geração de lixo é um assunto muito complicado em nosso mundo.
O descarte correto dos restos das nossas produções artesanais também precisa ser considerado. Quem de nós consegue produzir uma peça sem gerar nenhum retalho que vai para o lixo? E ele deve ir para o lixo mesmo? Os retalhos maiores de algodão eu separo para a minha colcha de hexágonos e o que eu não vou usar nela eu tenho doado para uma amiga professora que utiliza como material de educação artística em uma escola municipal do bairro. Mesmo assim, sei que tenho que melhorar esse aspecto também.
É um fato que o interesse econômico superou todos os limites humanos e naturais. E eu que achava que não era consumista vejo que ainda tenho um longo trabalho pela frente. Fico feliz que tenho este blog para passar essa mensagem adiante.
Convite
Enfim, esse post serve para convidar você para assistir o documentário (eu vi no Netflix e lá está legendado em Português), para pensarmos melhor sobre as nossas relações de consumo de roupas, tecidos e outros bens e também para buscar formas de melhorar tudo isso.
Beijos!
O descarte correto dos restos das nossas produções artesanais também precisa ser considerado. Quem de nós consegue produzir uma peça sem gerar nenhum retalho que vai para o lixo? E ele deve ir para o lixo mesmo? Os retalhos maiores de algodão eu separo para a minha colcha de hexágonos e o que eu não vou usar nela eu tenho doado para uma amiga professora que utiliza como material de educação artística em uma escola municipal do bairro. Mesmo assim, sei que tenho que melhorar esse aspecto também.
É um fato que o interesse econômico superou todos os limites humanos e naturais. E eu que achava que não era consumista vejo que ainda tenho um longo trabalho pela frente. Fico feliz que tenho este blog para passar essa mensagem adiante.
Convite
Enfim, esse post serve para convidar você para assistir o documentário (eu vi no Netflix e lá está legendado em Português), para pensarmos melhor sobre as nossas relações de consumo de roupas, tecidos e outros bens e também para buscar formas de melhorar tudo isso.
Beijos!
Difícil mesmo Katia, a gente não tem pra onde correr! Comentei sobre consumir menos lá no meu blog, o fato de trabalhar em casa acabo não comprando tanto como compraria se tivesse que visitar clientes diariamente. E estou tentando fazer minhas roupas, mas difícil encontrar tecidos que tenham uma boa procedência e se preocupem com a natureza. Acredito que temos muito que melhorar, esse boom no consumismo que tivemos nos últimos anos está a caminho do fim, eu acredito. Bom, acho importante abrir a discussão para que as novas gerações tenham um mundo melhor e sustentável. Me preocupo muito com isso também! Beijo
ResponderExcluirOi, Andrea!
ExcluirO assunto é muito complexo mesmo, mas é importantíssimo disseminar as nossas pequenas mudanças em relação ao consumo. Eu também fico muito em casa e noto o mesmo movimento de consumir mesmo por conta disso. Tenho planos de fazer uma pesquisa sobre tecidos sustentáveis e o que eu encontrar eu vou compartilhar por aqui.
Fico feliz que tem mais gente com a mesma preocupação!
Beijos e boas costuras!
Katia
Adorei o seu post. É um alerta que dá muito que pensar com as atitudes que temos no nosso dia a dia. Obrigada pela partilha deste documentário.
ResponderExcluirOi, Emilia!
ExcluirFico feliz que tenha gostado do tema!
É importante abordá-lo para realmente pensarmos sobre o que pode ser melhorado no nosso dia a dia!
Beijos!
Katia
Super oportuno Katia! Há muito o que ser discutido sobre este assunto. O descarte e o consumo consciente são reflexoes necessárias que refletem no comportamento coletivo. Ó caminho a se percorrer é enorme e cheio de interrogações, mas acredito que aos poucos a humanidade tende a sentir a urgência da mudança e a necessidade da consciência. Eu ainda não vi o documentário, mas já está na agenda desta semana. Valeu!! ����
ResponderExcluirOi, Andreza!
ExcluirConcordo totalmente com o que você colocou!
Espero que você possa assistir o documentário, ajuda a gente a abrir os olhos para questões que às vezes nem passaram pela nossa cabeça ainda!
Beijos!
Katia
Poxa, eh realmente algo para se pensar, a que custo nos temos acesso a tudo o que temos.
ResponderExcluirQuero ver esse documentario tambem, muito legal o post!
Bjinhos
http://pequenasmeninices.blogspot.com/
Oi, Mary!
ExcluirObrigada pela visita!
Como comentei com a Andreza, espero que você possa assistir o documentário, ajuda a gente a abrir os olhos para questões que às vezes nem passaram pela nossa cabeça ainda!
Beijos e boas costuras!
Katia
É um problemão! Esse documentario me abriu os olhos para o consumo em geral. Nao nos importamos em comprar já que é barato, desde a roupa barata a lojinha de um real. Mudar a consciencia da populaçao será muito dificil, já nascemos consumistas no mundo de hoje. Fazer a minha roupa e dos meus filhos me da más poder em controlar o que vestimos e reciclar porém não ajuda a que as pessoas do outro lado do mundo tenham melhor vida , isso tb me incomoda. Fizeram um programa aquina Espanha, Fashion Victims en Salvados na Sexta, http://www.lasexta.com/programas/salvados/avances/salvados-explica-fenomeno-fast-fashion-producir-ropa-barata-que-dure-muy-poco-tiendas_2016021700365.html, e impresiona ver que o que as costureiraa da Asia pidem a gente : que compremos mais roupa assim o salario delas pode aumentar!!!!! Com o que elas ganhan em todo ano da para comprar uma calça jeans :-O ! En fin, muito temos que fazer para mudar nosso mundo!
ResponderExcluirOi, Naii!
ExcluirPois é, o assunto é muito complexo e não é simples mudar os comportamentos que já temos. Ainda que eu esteja no mesmo caminho que você (costurar as próprias roupas, enviar materiais para a reciclagem), permaneço inquieta com as questões que não estão sob meu controle (como o trabalho escravo em países bem longe daqui e aqui também).
Será difícil quebrar este ciclo de trabalho, como este que você exemplificou, mas eu acredito que em algum momento isso terá que se tornar possível!
O jeito é fazermos o que estiver ao nosso alcance, procurar mais formas de contribuir positivamente e compartilhar isso!
Beijos e boas costuras!
Katia